Na última noite de domingo (08/06/25), fui surpreendido por uma experiência que, até então, nunca tinha vivenciado. A convite do meu amigo Jorge Gastaldi, fui ao Teatro Bruno Nitz, em Balneário Camboriú, para assistir a um espetáculo de stand-up comedy: Quarteto Nada Fantástico. E o que era para ser apenas uma noite de risos, acabou se tornando uma profunda reflexão sobre o riso, a arte e a liberdade.
O teatro estava lotado. Gente de todas as idades, olhares curiosos, ansiosos pelo alívio que só uma boa gargalhada pode proporcionar em tempos tão tensos. O palco simples, o microfone ao centro e a coragem dos artistas diante de uma plateia implacável — cada risada, cada silêncio, cada expressão valia como um veredito.
Quando Jorge entrou em cena, o clima esquentou. Ele tem presença, ritmo e ousadia. Gargalhei como há muito não fazia. Mas também observei: nem todos riram das mesmas piadas. Alguns se curvavam de tanto rir, outros mantinham o rosto sério, quase analítico. E aí percebi o quão delicada é a arte da comédia.
Fazer rir é muito mais difícil do que parece. A comédia exige leitura de mundo, coragem para cutucar feridas e sensibilidade para transformar tragédia em leveza. Cada texto é um ato de entrega. Um comediante sobe no palco não apenas para entreter, mas para ser julgado — por vezes, literalmente.
Durante o espetáculo, Jorge fez uma pausa no roteiro cômico e trouxe uma reflexão urgente: a recente condenação do humorista Léo Lins. Um momento tenso, mas necessário. A plateia, que segundos antes ria, se silenciou. Ali, no meio de um show de humor, fomos lembrados de que a liberdade de expressão está sendo colocada à prova.
O caso de Léo Lins transcende o debate sobre o que é ou não engraçado. Toca em algo muito mais profundo: o direito de dizer, de provocar, de pensar diferente. Hoje é um humorista. Amanhã pode ser um jornalista, um artista, um cidadão comum. Pode ser eu. Pode ser você.
A comédia sempre foi termômetro social. É nela que a sociedade se observa com um espelho torto, mas verdadeiro. Calar os cômicos é, de certa forma, calar nossa própria capacidade de rir de nós mesmos — e isso, no Brasil de hoje, é um risco perigoso demais para ignorarmos.
Parabéns ao Quarteto Nada Fantástico pela coragem, pelo talento e por não fugirem da responsabilidade que a arte impõe. E parabéns ao público que, mesmo entre risos e silêncios, se permitiu pensar.
Porque rir ainda é um ato de resistência. E precisamos rir — enquanto ainda podemos.
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